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15 de novembro de 2004

«Cinco Perguntas a Vital Moreira» (sobre a Região Centro) 

Entrevista de Rui Baptista

1.Como é que o Centro projecta o seu peso político?

O peso político da região Centro, entalada entre as zonas de influência de Lisboa (que sobe até Leiria) e do Porto (que desce até Aveiro), é escasso e a projecção é ainda mais pequena. O pouco ou nenhum peso político corresponde ao diminuto peso económico da região, que hoje é comparativamente uma das mais pobres do País, quer por falta de dinamismo endógeno, quer por défice de investimentos do Estado, que tem privilegiado especialmente Lisboa e, em menor medida, o Porto. Por isso o fosso não cessa de aumentar. Faltam também, em quase todos os campos (empresarial, cultural, literário, artístico, mediático, etc.), protagonistas regionais com impacto nacional. A região quase não existe nos "media" nacionais.
A própria identidade regional da região Centro, em vez de cultivada, é controvertida (como sucedeu com o último presidente da CCDR...). As iniciativas com valor indentitário simbólico fracassam quase sempre, como sucedeu recentemente com a Orquestra regional das Beiras e com a marca turística da região, a "Lusitanea". O falhanço da regionalização em 1998, cujo projecto aliás era assassino para a Região Centro, comprometeu irremediavelmente a emergência de uma consciência e uma identidade regional forte.

2.O facto de haver secretários de Estado e ministros provenientes da região tem alguma influência no peso político do Centro?

Terá alguma. Sempre permite sensibilizar internamente o Governo para as necessidades da região e para tentar fazer valer esses interesses nas prioridades dos investimentos públicos. Mas a raridade dos ditos revela que tal influência é muito pouca. E o facto de serem poucos favorece o menosprezo dos interesses da região. É um círculo vicioso. O recrutamento governativo confina-se cada vez mais a Lisboa, com umas migalhas para o Porto. Na verdade os partidos políticos também são "lisboacêntricos"...

3. Porque é que a Universidade de Coimbra deixou de ser o alfobre da classe política dirigente nacional?

A principal razão tem a ver com a concentração do ensino universitário em Lisboa (4 universidades públicas, mais umas tantas privadas, entre as quais a Universidade Católica) e com a deslocação do campo de recrutamento governativo, dos juristas para os engenheiros, economistas e gestores, áreas em que Coimbra se atrasou durante demasiado tempo; depois, há a proximidade com os demais centros de poder acumulados na capital, na esfera financeira, económica, social, cultural e sobretudo mediática. Além disso, desde há muito que a UC é prejudicada pelo Governo no que respeita aos investimentos. Ainda agora se notaram os privilégios governamentais de Lisboa num generoso contrato-programa em benefício do IST (por acaso a Universidade da Ministra) e no anunciado aumento do número de vagas em Medicina em favor da Universidade Nova.

4. Pode falar-se da representação do interesse regional por parte dos deputados, ou cada um defende o círculo distrital por onde foi eleito?

Constitucionalmente os deputados representam o País em geral e não o seu círculo eleitoral; mas nada impede, sendo mesmo natural, que promovam especialmente os interesses dos círculos por que são eleitos. Contudo, os círculos eleitorais são os distritos e não a região, que não existe politicamente. Além disso, como é evidente, os deputados identificam-se em geral mais pela sua diferente obediência partidária do que propriamente pela solidariedade na defesa de interesses locais ou regionais. Não tenho notícia de nenhum fórum regional dos deputados dos vários distritos da região (os quais, aliás, nem sequer coincidem com os limites territoriais da região.


5. Quais são as áreas em que a região assume hoje um protagonismo indiscutível?

"Protagonismo indiscutível", não vejo nenhuma (tirando o "queijo da serra", o leitão à Bairrada e o pindérico turismo de neve da serra da Estrela...). De resto, a primeira condição para o protagonismo é a existência de organizações e grupos de interesse representativos fortes. Ora na região Centro faltam empresas, fundações, organizações empresariais com dimensão relevante.
No caso de Coimbra em especial penso que ela deveria apostar naquilo em que tem ou pode ter vantagens relativas, designadamente no ensino e investigação científica, na saúde, nas indústrias tecnológicas, no turismo cultural.

(Suplemento "Debates sobre o Centro", Público, ed. Centro, 13 de Novembro de 2004)

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